sexta-feira, 4 de julho de 2008

Juazeiro do Norte (CE)




Já estamos em Juazeiro, terra onde Padre Cícero Romão Batista, nascido no Crato, fixou residência e se tornou pároco. Aqui existe um 'turismo religioso' impressionante! Milhares de pessoas chegam todos os dias para orar pelo 'Padim'.

Padre Cícero foi responsável pela emancipação e independência da cidade. Por conta do chamado "milagre de Juazeiro" (quando Padre Cícero deu a hóstia sagrada à beata Maria de Araújo, a hóstia se transformou em sangue), sua figura assumiu características místicas e passou a ser venerado pelo povo como um santo. Hoje a cidade é a segunda do Estado do CE e referência no Nordeste graças ao padre.

Sagu... !!!




(Fernando) Adoro sagu, e para minha surpresa (para não dizer alegria), esta sobremesa fez parte do “repertório” da maioria dos restaurantes do Sul do país! O pessoal da orquestra até já se diverte com o fato de eu preferi-lo ao invés de algo mais “refinado” como um creme brulée ou coisa do tipo, mas digo que, o meu apetite por ele vai muito além da mera degustação, é na verdade, uma apreciação ao saudosismo em relação à minha infância, e mais a fundo, ao significado da infância em geral.

O interessante em ser criança não esta em possuir privilégios em relação ao compromisso e a responsabilidade. Para mim, ser criança é ter um entusiasmo e uma capacidade de criação além do que o mundo perceptível pode oferecer. A criança cria para si uma realidade inatingível, possuí a exímia capacidade de sonhar!

Ao crescemos, bombardeados pela realidade que nos choca e pelo pragmatismo que a vida moderna nos exige, o ceticismo e a descrença tomam conta de nossas visões, e da maneira como fazemos o mundo para nós. Em síntese, a criação já não faz parte do vocabulário da maturidade.

O meu saudosismo, a procissão de fé em torno daquilo que acredito, não é uma apologia à “síndrome de Peter Pan”, e muito menos uma visão “sentimentalóide” típica dos “corações mole”. Para mim, a lição que deveríamos aprender, e apreender das crianças é exatamente esta incrível capacidade de criar – de gerar e desenvolver a cada dia nossas realidades sociais, de sonhar que poderemos ser melhores e produzir dentro daquilo que nos foi encarregado a realizar.

Para relembrar uma propaganda de folhas sulfite: “na vida cada um tem o seu papel”! Porém será que estamos mesmo cumprindo seriamente com o nosso papel?

Todo grande projeto é acompanhado de uma visão e missão. Dentro desta linha, o “Sonora Brasil” colocou para si o dever de educar e formar platéias em torno da música de concerto – de popularizar uma linguagem musical pouco acessível não só em termos de produção, como também em termos da linguagem em si.

Nem tudo pode ser “pop”, a arte fácil de ser aprendida! A música de concerto exige disciplina, perseverança, ela às vezes é rude, difícil de ser digerida, mas no final, revela um universo muito além do que a superfície pode mostrar, e muito mais do que efêmero e o casual podem garantir – é uma relação de eterna sinceridade e responsabilidade, e como diria o profeta, “quanto mais lhe for dado, mais lhe será cobrado”!

Dentre alegrias e tristezas, facilidades e dificuldades, nós da orquestra de Mato Grosso assumimos o papel de a cada dia desbravarmos o Brasil nesta incrível missão do “Sonora”, nesta jornada em torno da obra de Villa-Lobos e das diferentes regiões do país. Porém foi triste para mim observar que algumas realidades desta nossa nação deixaram em muito a desejar. Percebi que em alguns lugares vemos uma incrível confusão de papéis no enredo social, e ainda por cima, um completo descomprometimento com uma missão além daquela que envolve o próprio umbigo!

Passadas as regiões sul e centro oeste, a região norte do país se revelou a mais contrastante de todas em minha opinião, indo desde o crescimento “entusiasmado” de Palmas, Rio Branco e Boa Vista à triste realidade de Porto Velho e Macapá.
O SESC cumpriu com o seu dever, nós da OMT também, mas de que adianta um compromisso com o alimento intelectual se em alguns lugares ainda nem existe o mínimo necessário para a higiene pessoal do indivíduo?

Crescimento urbano desordenado por ausência de planejamento, constantes focos de insegurança para a população, falta de saneamento básico que abrange praticamente toda a zona urbana, déficit no atendimento básico de saúde, ausência de vaga nas escolas públicas municipais e estaduais, transporte coletivo mal dimensionado, são apenas um pequeno quadro da maioria das cidades da região norte do país. E de quem é a culpa?

A arte é apenas uma esfera da estrutura social total em que cada parte é integrante do todo. Uma mudança de postura intelectual em relação à música de concerto não depende apenas de nós músicos, e do projeto “Sonora Brasil”. Mudar uma realidade musical, e conseqüentemente social, é dever de cada individuo. É um trabalho insistente em torno de uma missão geral, de um objetivo comum, e acima de tudo, um compromisso com o ato de criar! Somos todos cúmplices do mesmo sucesso, ou insucesso, a questão então é se estamos dispostos a produzir esta nova realidade ou não!
O SESC (salvo algumas exceções de suas divisões regionais) provou que esta disposto, nós músicos (talvez pela natureza de nossa profissão), também estamos no mesmo vôo, mas e os outros?

Foi se o tempo em que o Brasil formou homens como o Barão de Rio Branco, Luis Carlos Prestes, ou, para citar no campo das artes, como Heitor Villa-Lobos, e enquanto o poeta continuar a “apontar a lua” e o “idiota mirar o dedo”, continuarei a sonhar que cada um de nós ainda caminhe em busca de seu papel, de suas atribuições, e num desvairo meu, a apreciar a cada dia o meu delicioso saudosismo em torno de uma simples sobremesa... viva o sagu!