sexta-feira, 27 de junho de 2008

Santana (AP)

(Leandro) Santana é um município do interior do Amapá. A cidade carece de infra-estrutura básica e sua população tem pouco acesso ao conhecimento e a educação. O acesso a bens culturais também é extremamente limitado. Algumas pessoas, ou melhor, alguns heróis vêm trabalhando para reverter este quadro, a maioria ligada aos poderes públicos e ao terceiro setor.

Foi a primeira vez que uma orquestra se apresentou no município de Santana. Em parceria com a Casa Brasil, optamos por fazer o concerto no salão principal, apesar do calor e da acústica precária. O público foi chegando, tímido, com um kilo de alimento na mão. Pessoas muito simples que lançaram-se nesta ‘aventura’ de sair de casa e ir a Casa Brasil assistir uma orquestra.

Pouco antes do início, pedimos para que as luzes especialmene colocadas para a ocasião fossem desligadas. O calor estava causticante. As cordas cedendo, os arcos sem pressão e atrito, os sopros com a afinação subindo. Vencido este problema, fomos apresentados ao público de Santana pelo Bebeto, técnico do Sesc, que conquistou todos nós com suas idéias e empenho sem limites para fazer as coisas darem certo. Comecei apresentando os instrumentos musicais e busquei fazer um concerto mais ‘didático’. Falei muito sobre Villa-Lobos, sua vida, seu pensamento e porque era importante ouvir sempre sua obra. As pessoas adoraram sua música e ficaram emocionadas. Valeu a pena.

Quando o concerto terminou, o Alex me confidenciou que ficava mais emocionado e achava mais importante fazer um concerto em Santana, naquelas condições, do que numa grande sala de concerto numa metrópole qualquer. Acho que foi este o sentimento que predominou no grupo. Vivemos a ‘democratização’ da cultura diariamente. Levar música de concerto para os extremos do país é dificil, muito mais do que fazer um concerto na sala ‘mais importante do mundo’. Acreditem. Os obstáculos internos, de cada um de nós, são os mais ‘altos’. É preciso vencer preconceitos e acreditar muito no Brasil para que todo este esforço não seja em vão. É um exercício diário de altruísmo e desprendimento. Uma grande lição que levaremos para toda a vida.

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